Uma camponesa e dois Lordes.

Por: Elisa Borges


Prólogo.
- A gente pode ir ao cinema. Fica ? - Ele disse não olhando em meus olhos, se esquivando, se escondendo.
- Você nunca pediu para que eu ficasse. - Soou severo, mais dentro de mim se formava um tornado sem tamanho, em lágrimas.
Um silêncio se formou entre nós e meu tornado. Eu sabia que ele não iria se opor mais, eu sabia. Me virei e fui para sempre, ou não. Não me atrevi à olhar para trás em nenhum momento. Não sei se era tão forte a ponto de lhe ver ali em meio àquelas flores, às nossas flores, que plantamos naquele verão há um ano. Que saudade daquele verão. Por um instante me vi pensando que podíamos voltar ao que éramos, porque não? Mais logo coloquei meu pés no chão novamente. "Acorde Ana, as coisas nunca voltaram ao que eram!" Disse a mim mesma em voz alta, não tão alta que qualquer um pudesse ouvir, mais o bastante para que eu entendesse.



Capitulo 1




Olhava aquele sol que entreva pelas frestas da janela e passava pela cortina nude que cobria a janela mais não a escurecia. Estava em uma nova vida, e ainda não tinha parado para pensar em tudo que aconteceu. Por medo na verdade. Mas já se faziam cinco meses que me mudei da grande Genebra para Monthey. Agora acho até um pouco cômico o modo como minha vida mudou nesse meio tempo, só agora. Não nego que ainda sinto falta da minha antiga vida, do meu antigo lar, do meu antigo amor. Digo antigo porque está no ritmo, ainda o amo. Amo como se isso fizesse parte de mim. Se é que não faz. Nos primeiros meses quase me cedi as recaídas, quase liguei e mandei e-mails. Mais não o fiz. O que de certa forma foi melhor, hoje vivo melhor com a dor, se é que é uma dor. Digo, acho que me acostumei com a dor, e igual ao amor que sinto por Miguel, já faz parte de mim.
Como tudo na Suíça, Monthey possuí um frio doce, elegante. Andava pelas ruas como meu simbólico sobretudo vermelho e minhas botas marrom. Procurava algo que não sabia muito bem o que era, ainda estava em processo de conhecimento à cidade, já que os primeiros três meses não me ousei a sair de meu quarto na pensão "Dulce Cantar" (o nome tem total ligação ao lugar) , a não ser para dar uma volta rápida em torno do lindo e "Dulce" jardim. Não me atrevia a pensar nesses meses, só lia, comia, dormia. Tinha deixado para trás 21 anos de vida. Era como se desde que cheguei aqui tivesse começado do zero, pelo menos eu queria que fosse assim.

"Bella entre líneas" rotulava uma livraria, uma encantadora livraria com flores nas janelas e tapete de "Bienvenida" na porta. Como todas as livrarias isso me chamou atenção. Entrei. Livros e mais livros, lindos livros. Me vi tomada por uma obra sobre a França. Sou fascinada por esse país. Sobre tudo, o acho romântico. Saindo da livraria, seguindo meu percurso de conhecimento, entrei em um café que já havia conhecido à duas semanas atrás, o "Coffee der fünf" (Café das Cinco). O dono era um alemão de mais ou menos 25 anos portador do nome Alfons, mais vulgarmente chamado de Fons. Me sentei ao lado da janela, gostava de ver aquela garoa que caía enquanto tomava meu Cappuccino e comia o delicioso luxemburgerli (na França conhecido como Macarons). Fons se aproximou, e logo estava sentado em minha frente, naquele sofá aconchegante de seu próprio café. Pude perceber que tinha nas mãos um Café Mocha, o qual era estupidamente gostoso.

- É lindo não é? - Sem ao menos me olhar ele fitava além da janela. A garoa e os montes tomavam sua atenção.
- Surpreendente. - Ele era um admirador das pequenas coisas, como eu.
Tomou um gole de seu Café Mocha e eu o acompanhei no meu Cappuccino. Não entendia muito qual o motivo de vir até mim, já que logo o café estava relativamente cheio.
- Pude perceber que você tem freqüentado meu velho café há mais ou menos duas semanas, sempre senta à essa mesa, perto da janela, e observa a garoa, muda o pedido vez ou outra, sem fazer muita questão.. - ele deu uma pausa e me vi o encarando, sem saber onde ele queria chegar com aquela conversa. Será que havia algum problema em ter me apaixonado pelo lugar? - e sem felicidade nisso, sempre que olho em seus olhos.. – pela primeira vez, que eu pude perceber, ele me olhava profundamente os olhos. - como agora, vejo uma certa .. tristeza, uma angustia. - Ele gesticulava com as mãos tentando encontrar as palavras certas. Sem saber muito o que dizer, sem querer parecer uma mulher aos 22 anos perdida por um amor inacabado, uma perda repentina dos pais, e buscando uma nova vida ( o que por hora, era realmente eu ), me enrolei, gaguejei e logo fitando a janela respondi:
- Eu não sei sobre o que está falando.
- Se não soubesse não estaria tão desconsertada. - Ele retrucou. - Mais não me leve à mal, não quero lhe invadir, muito menos parecer inoportuno. Só queria conversar. - Agora quem parecia desconcertado era ele.
O silêncio prevaleceu por entre nós. Me levantei sem ao menos comer meu luxemburgerli.
- Com licença. - eu disse, sem olhá-lo e pegando o mais novo membro de minha coleção. Saí me achando a pior pessoa, como eu poderia ter sido tão arrogante, meu deus, ele só queria uma conversa. Rapidamente parei, e retornei. Entrei no "Coffee der fünf" rapidamente me virando para mesa que dava à janela, o pedido de desculpas já quase escapando de minha boca quando pude perceber que Alfons não se encontrara mais ali. Olhei em volta, mais não o vira. Por um momento pensei em perguntar para o senhor que ali trabalhava, mais não me atrevi. Me virei e fui embora, mas uma vez.

"- Brigamos mais uma vez. - Com uma voz baixa eu respondia a pergunta de meus pais que se sentavam aos bancos da frente do velho Chevet, depois de perceberem que não fui de muitas palavras nosso dia todo juntos. - Mais acho que dessa vez foi sério...- Em silêncio eles esperavam mais,  e eu o fiz. - Não vejo mais o entusiasmo que ele tinha a tempos atrás, parece que ele não me ama. - Me vi um pouco nervosa com aquilo, e me estampei a falar mais e mais. - As coisas não são mais como eram, a vida não é tão doce, ele não me trás mais flores e nem se importa em me abraçar.. - Rapidamente fui interrompida quando meu pai se opôs, e tirando a atenção da estrada ele se virou ao banco traseiro me dizendo:
- Se não se sente feliz, fuja. - Foi com muito custo que pude escutar a última palavra, já que um farol cintilante e uma alta buzina se apoderava de meus olhos e meus ouvidos."

Rapidamente pude perceber que Dona Yone se encontrava significamente assustada junto a minha cama.
- O que aconteceu? Foi só um pesadelo menina Ana. Está tudo bem! - Ela se apressava nas palavras, fazendo perguntas e as respondendo. Estava atordoada, mais uma noite sonhava com o dia do acidente. Minhas mãos suavam e minha barriga doia.
- Me perdoe Dona Yone , não foi minha intenção acordá-la. - Eu disse sinceramente, não me lembro de ter gritado, mais certamente foi isso que aconteceu.
- Não se preocupe com isso menina Ana, - ela sempre me chamava assim, o que de certa forma, eu gostava. - a gente sempre tem pesadelos, não freqüentes como os seus, mais sempre tem. - Dona Yone sorriu e me aliviou. - Se quiser conversar estarei no meu quarto. - Disse seguido de um beijo na testa, um gesto de afeto, e saiu pela porta apagando novamente a luz. Me afundei em meio as cobertas. Como eu sentia falta dos meus pais.






Capitulo 2




- Bom dia! - Disse Tadeu. Um rapaz de mais ou menos uns 23 anos, loiro, não muito alto mais também não muito baixo, como dizem, na medida. Simpático e sempre bem humorado. Não pude conter meu pensamento que insistia na pergunta: "O que o faz tão feliz?" Quem sabe um dia eu pergunte à ele.
- Bom dia! - Tentei ser o mais simpática possível.
- Hoje tenho uma prova bastante complicada na faculdade, ontem estudei até tarde e pude escutar quando acordou do seu pesadelo. Você está bem? - Ele me olhava meio preocupado. Por que as pessoas tende a ser assim, doce, como Tadeu?
- Está sim, como diz Dona Yone , as pessoas tem pesadelos né? - Tentei sorrir, sem muito sucesso. - Faz faculdade de que? - Rapidamente mudei de assunto, pessoas doces lhe invadem.
- Psicologia. - Agora entendi o porque da "invasão", psicólogo. - Estou no terceiro período. Mais e você faz o que ? - Achei justo a pergunta, já que eu havia lhe invadido um pouco também.
- No momento, leio. - Tentei sorrir, parecer extrovertida. Tadeu soltou um sorriso sincero que eu pude perceber. Como ele conseguia ser assim? - Mais fazia Jornalismo em Genebra. Tranquei por um período. Quem sabe eu volte .. - terminei a frase sem sorrisos, isso me fazia lembrar o acidente e Miguel.
- Me perdoe se lhe fiz lembrar de coisas as quais está buscando o esquecimento. - Ele inclinou a cabeça para baixo, parecia realmente arrependido.
- Não, por favor não se sinta assim.. - logo me vi desesperada a achar alguma forma de não parecer estúpida, como fui com Alfons. - está tudo bem! Certas coisas não esqueceremos jamais. - Tinha certeza das minhas última palavras, e ele também pelo que percebi quando me olhou diretamente e profundamente os olhos. - Enfim, creio que vai muito bem na prova Tadeu. - Procurei mudar de assunto rapidamente.
- Lhe agradeço a confiança Ana, e realmente espero que me saia bem. Preciso dessas notas. - Ele disse comendo mais uma fatia do saudoso bolo que Dona Yone havia feito. - Mais agora tenho que ir, ou chegarei atrasado. Até mais tarde.
E antes de sair ele havia me dado um beijo em meus cabelos. Me senti corada, totalmente. Sorte ele já ter saído porta à fora.

Logo depois que havia digerido o café e juntamente o beijo nos cabelos que Tadeu havia me dado subi rumo ao meu quarto. Havia comprado uma luminária um dia antes e devia colocá-la em um lugar descente. Tentei ao lado dos livros na prateleira, já que são coisas ligadas, de certa forma. Mais não gostei muito. Coloquei em vários lugares até que pensei melhor e coloquei-a ao lado da minha cama. Como apajour, ficou perfeito. A cortina nude e a colcha branca entraram em total harmonia com a luminária florida. Parei um pouco e olhei pela janela, o vento frio do lado de fora arrastavam as folhas que nos chão estavam, para longe. Sempre para mais longe, nunca voltara. Nunca os vento as trazia ao seu lugar inicial. Lembrei de Miguel, e como o vento o levava cada vez mais para longe de mim. Pensei em mandar um e-mail, quem sabe ele não responderia com felicidade nas palavras? Mais resolvi não ceder a uma recaída. Ele poderia nem responder, e eu teria que voltar ao processo de esquecimento desde o começo.  Não poderia ficar parada, logo pensaria em coisas que haviam de sair de minha memória. Me troquei e sai. Era uma boa hora para pedir desculpas a um certo alguém.

O vento que outrora me fez lembrar de Miguel, me dava coragem. Não sabia o que, de certa forma, havia me feito tão bem aquela manhã. Talvez um gesto, o de Tadeu. Enfim, delicadeza atraí delicadeza. E isso em mim aflorava. Empurrei a porta de vidro que com adesivos escrevia: "Coffee der fünf"! Me sentei a mesa ao lado da janela, que por incrivel que pareça estava disponível. Logo o senhor que se fazia garçon veio me atender. O pedido não mudára, não havia necessidade. Com os olhos vasculhava o Café a fim de encontrar Alfons, mas não obtive sucesso. Tomei um gole avantajado de meu capuccino e fitei as montanhas. 

- Esteve sumida, dona Ana. - Uma subta alegria me invadiu fazendo com que um sorriso me escapasse. - E ainda me trouxe um sorriso de presente?
- Alfons, vim lhe trazer, na verdade, um pedido de desculpas, logo que ..
- Por favor, Ana não me venha com desculpas, eu que lhe invadi outro dia. Por favor. - ele disse me interrompendo. Sorri. Ele era tão gentil. Por um momento passou pela minha cabeça que ele me chamara de 'Ana'. Como ele sabia meu nome?
- Você me chamou pelo nome, e não me recordo de ter-lhe dito outro dia. - eu disse.
- Ah sim, não disse. Mas, como sabe, moramos em uma cidade um tanto quanto pequena e não há quem não conheça todo mundo, ou ao menos saiba o nome. – ele sorriu e pude perceber que se corava. Conversamos por horas e pude perceber que ele ela simpático, educado, gentil. Tinha muitas qualidades as quais eu pudesse ressaltar. Um homem e tanto. Me contou que estava no quarto peíodo de Jornalismo e esse café fora deixado pelos pais, como herança. Havia perdido os pais em menos de dois anos em um acidente de avião. Relatei que vivia quase a mesma história e a contei, em partes à ele. Que disse sentir muito. As horas passaram rápido e me vi esfomeada.
- Por que você não almoça comigo? Conheço um restaurante ótimo bem perto daqui. - Alfons disse com um entusiasmo exorbitante nos olhos.
- Eu adoraria.

Com alfons as horas passavam quase que em segundos. Me distraía e sorria constantemente ao seu lado. Passamos a tarde juntos, conversamos sobre assuntos variados e pude perceber por entre todas suas qualidades que ele era muito querido na cidade onde todos os comprimentavam quando passávamos. Na livraria, nos supermercados, nas lanchonetes, nos bancos, nas rodinhas de adolescentes, nos jogos de xadres do parque. Ele era simpático, igualmente, com todos. Dizia 'oi', 'bom dia', 'boa tarde' e lhes perguntavam como estava a vida. A tarde, como a manhã passou tão rápida que quase cheguei a não vê-la. Ele fez questão de me deixar em casa e dizer 'tchau' seguido de um beijo no rosto.





Capítulo 3




Era uma manhã fria de inverno. Os termômetros marcavam temperaturas baixíssimas. Estava envolvida em meu cobertor, a tv estava ligada mas não queria vê-la. Repassava os canais mas pouco me importava com o que a tela preenchia. Havia uma semana se passado desde que almoçei com Alfons. Nos falávamos regularmente. Pensei nele, em como ele era gentil e me fazia bem. Alguém bateu em minha porta.
-  Ana, você está acordada? - Era Tadeu, e parecia estar com uma voz meia rouca.
Me aproximei muito de Tadeu essa última semana, nos falávamos regularmente e tomávamos café juntos, todas as manhãs e tardes. Estávamos nós dois e dona Yone na pensão, sendo que Maria estava passando uns tempos na casa dos pais em Nova York e voltaria só daqui dois meses, e Ruth fora fazer um curso de mandarim na china com duração de três meses, por isso a nossa aproximação foi mais forte, creio eu. Me levantei e tratei de abrir a porta para Tadeu.

- Oi Tadeu, bom dia! - eu disse fazendo gestos para que ele adentrasse meu quarto.
- Lhe trouxe um capuccino. Eu mesmo preparei. - ele disse me entregando a caneca quente. - Me perdoe se lhe acordei, caso queira vou para meu quarto e nos falamos mais tarde.
- Não Tadeu, tudo bem. Você não me acordou, não sei ao certo o que aconteceu, mais acordei bem antes de bater à minha porta. - sorri. Ele não. - Aconteceu algo?
- Mas ou menos, mas não quero lhe importunar com esse tipo de coisa. - ele baixou a cabeça e lhe disse para sentar e se cobrir, estava frio.
- Você não me importuna, Tadeu. Somo amigos, não somos? - ele acentiu. - E amigos não importunam. Vá me diga, o que lhe aflinge? Tenho te notado meio inquieto às vezes.
- É a Maria. A gente tinha .. algo. Não sei ao certo o que tínhamos. Quando ela resolveu passar um tempo com os pais nos Estados Unidos conversamos sobre nós e chegamos a conclusão de que era melhor não se comprometer com nada sério, logo que ela não sabia ao certo quantos meses ficaria por lá, na época. Eu não a amava, sabe Ana. E ainda não a amo. Mas ela, querendo ou não, é importante para mim. Fez parte da minha vida e foi especial ... - ele cessou, esperei por um tempo caso ele retomasse a fala, mas apenas me olhou. Ainda não entendia ao certo o que estava acontecendo, logo que ao menos sabia que os dois haviam de ter um relacionamento, por mas estranho que fosse esse relacionamento.

- Foi? -  eu disse, buscando respostas. Não sabia ao certo se era a coisa certa a dizer. Não sei ao certo o que ele queria que eu fizesse mais respondeu:
- Foi ... - ele tomou fôlego. Sabia que tudo viria á tona naquele momento. Me acomodei na cama e me coloquei a escutá-lo. - Assim que ela partiu nos falávamos diariamente. Ela me mandava e-mails, sms's, me ligava, e eu fazia o mesmo. Me mandava cartões postais de Nova York, estava tudo normal. Mas eu podia sentir que ela estava cada dia mais distante. Mas em momento algum cheguei a comentar com ela sobre o que eu achava. Teve época de ficar mais de uma semana sem nos falarmos. Eu tinha certeza que algo estava acontecendo, mas quando ela resolvia ligar eu a tratava normal. Não queria perder sua amizade, que era o que eu mais prezava, já que apenas gostava dela, e não a amava. Há mais de dois meses atrás em uma dessas vezes que ela me ligou a achei, de certa forma, mais estranha do que nunca. Estava distante, mas disse que voltaria dali quatro meses. Gostei, já que ela era, de qualquer forma, minha amiga. Não pensava mais em tudo que tivemos, mais gostava dela como amiga e como mulher. E ontem, ela me ligou me informando que se casaria daqui uma semana... - ele fitava seu capuccino, não me olhara nem ao menos uma vez. Era como se estivesse desabando tudo que lhe atormentara por meses. - como assim daqui uma semana? Por mais que ela não me amasse, a gente teve algo e queria ao menos que ela me dissesse que estava namorando, que havia ficado noiva. E ainda teve a ousadia de me convidar para o casamento. Disse que eu poderia levar quem eu quisesse e ela mandaria as passagens junto com o convite. - Ele agora se calou, pensei que queria ouvir minha voz, e lhe dispus: 


- Você se sente mal com isso?
- Não é que eu me sinta mal, só estou me sentindo ... por baixo. - ele disse e logo me olhou nos olhos. - Não por que ela está com um noivo e vai se casar daqui uma semana, só pela falta de consideração da parte dela, de ao menos me dizer que conheceu alguém que estava namorando, que noivou. Sabe? - Ele suplicava um entendimento.
- Entendo. - coloquei minha caneca na mesinha de cabeceira e segurei sua mão livre. - Tem vezes que as coisas não andam nos seus trilhos, Tadeu. Tem vezes que devemos nos conformar  que tem pessoas que não importam, independente do quanto você se importe por ela, ela simplesmente não se importa. E eu sei bem o que isso significa. E tem pessoas ainda que não tem coragem suficiente para chegar em nós e dizer o quanto a gente é importante, mais que amar, amar mesmo, ama outra pessoa. Tem pessoas que são desprovida dessa capacidade, e com isso acaba nos machucando, e até mesmo nos 'iludindo'. Não sei se isso aconteceu com você, é só que ... - procurava as palavras mas elas não vinham. Tadeu me interrompeu me abraçando.
- Obrigado, muito obrigado. - ele completou.
Ficamos um tempo abraçados e ele se virou para mim:
- Você faria algo por mim? -  ele perguntou, e sorriu. - Você toparia conhecer Nova York?
- Como assim? Mas eu não fui... e acho que talvez ela possa ...
- Tudo bem se não se sentir a vontade de ir, mais não me impeça de perguntar... Você seria minha acompanhante nesse casamento? - Ele fechou os olhos esperando a resposta, comprimindo-os.
- Se bem que, conhecer Nova York não seria uma má idéia... - ele abriu os olhos e me lançou um abraço novamente. Sabia que estava entrando em um ‘fria’ mais o que não fazemos por um amigo.
- Daqui uma semana, viu? Espero que já comece a arrumar sua mala. – Ele disse saindo do abraço, me olhando nos olhos e sorrindo.

Terminei meu capuccino e me pus a deitar por debaixo das cobertas. Continuava a conversar com Tadeu que agora fazia planos para nossa viagem. Além de querer aparecer com alguém no casamento de sua ‘ex’ ele queria me levar a conhecer outros lugares. Eu o ouvia e enquanto ele dizia me sentia cada vez mais animada com a viagem. Sabia que talvez ir como acompanhante de Tadeu a esse casamento poderia não ser a coisa mais certa a fazer, mais conhecer Nova York me entusiasmava. Enquanto ele falava se aconchegou ao meu lado na cama, deitando. Conversamos, rimos e fazemos planos. Acabei adormecendo nos ombros de Tadeu. 

‘ – Filha. Filha. Ana? – minha mãe quase gritava em meio ao restaurante.
- Oi mãe, fale mais baixo. – Eu disse olhando pelos lados e percebi que quase todos me olhavam, mas logo voltaram aos seus pratos e conversas.
- Mas estou falando com você a mais de horas e você não me escuta. – Ela fazia um gesto com as mãos, mostrando indignação. – Estava dizendo que seu pai e eu resolvemos fazer uma segunda lua de mel mês que vem. Pensamos em Paris ou Veneza. O que acha?
Pude perceber a felicidade em seus olhos.
- Por que não ir as duas? Será um passeio e tanto. – Propus.
- Está certa minha filha, está decidido. Iremos a Veneza e depois a Paris. Está de acordo meu amor? – meu pai corria os olhos de mim para minha mãe esperando sua resposta.
Como era de esperar ela disse sim e eles se beijaram.’




- Ana, você está bem? – Tadeu me olhava desesperado secando as lágrimas que caia em torno de meu rosto, molhando seu ombro.

Acordei as prantos, e por mais que tentasse parar de chorar as lágrimas agora eram involuntárias. Lembrar de meus pais me fazia bem, mais deixava uma saudade a qual nada pudesse melhorar. A falta que ambos me faziam era incalculável.
- Sim, estou bem. Foi só um sonho. – eu disse, passando a mão por entre meus olhos tentando cessar as lágrimas.
- Mas sonhos. Vem cá. – Ele disse me abraçando. Tadeu e dona Yone presenciaram todos meus sonhos e pesadelos essa semana. Todos envolviam lembrança de meus pais.
- Talvez essa viagem até lhe faça bem. – Tadeu disse e sorriu. Sorri também. ‘Tomara’, pensei.




Capítulo 4 - Narrado por Tadeu


A conversa com Ana havia me deixado mais confiante. Fiquei imensamente feliz em saber que ela aceitara meu convite para ir ao casamento de Maria, não só por ter uma acompanhante no casamento de alguém que foi, ao menos, injusta comigo, mas por essa acompanhante ser Ana. Nos aproximamos muito um do outro essa última semana e pude a conhecer melhor do que aquela menina que insiste em se trancar em seu quarto e fazer companhia para suas decepções e inseguranças. E adorei conhecê-la.  

- Almoça comigo? – Propus depois de um longo abraço.
- Adoraria. – Ela disse.

Almoçamos, já podia vê-la sorrindo outra vez. Confesso que ver aquelas lágrimas em seu rosto não me faziam muito bem. Pensei em como a vida havia de ter sido injusta com Ana. Não sei o que faria se perdesse meus pais. ‘Ah que saudade dos meus pais’, pensei.
A tarde, passara rápido e mal pude perceber. Sentia Ana mas confiante e mais feliz a cada hora que passava. Sorrimos e conversamos por horas sobre coisas, a certo modo, insignificantes. Comemos doces e por fim, ela resolveu me levar a um café que eu já havia visitado algumas vezes. Disse que queria apresentar um amigo. "Coffee der fünf" rotulava o tão famoso café. Nos sentamos em uma mesa e o pedido ficou por sua conta. Pude vê-la acenando à alguém. Quando me atrevia a olhar, percebi um homem vindo em nossa direção.

- Tadeu, este é Alfons. – Ana disse com um sorriso no rosto. Pensei ter visto um entusiasmo a mais em seus olhos, mas me contive.
- Prazer, Tadeu. – Lhe disse, pegando em sua mão.
- Prazer, Alfons. – Ele completou.
Ana convidou-o a se sentar conosco e me dispôs a contar como se conheceram. E contou a Alfons também que iríamos viajar dali a uma semana. Pude perceber que ele queria perguntar algo mais não o fez.
Ficamos ali por mais algum tempo e ele se levantou, dizendo que teria de arrumar para poder assim, ir para faculdade. Olhei no relógio que marcavam seis horas.
- Tadeu, sua faculdade! – disse Ana, quase berrando em meio ao café.
Sorri. Além de tudo ela era engraçada.
- Tudo bem, vamos pra casa? – propus.

No caminho ela me perguntou como estava a faculdade, e como eu escolhi a psicologia. Lhe respondi e perguntei o por que ela não voltara a estudar assim que chegou em Monthey, ela me explicou e pude ver uma vontade em seus olhos.  “Seria bom se ela voltasse a estudar” – pensei. Ao menos não se distrairia e as poderia ver mais seus sorrisos. 




Capítulo 5










As horas se passavam enquanto, apressadamente arrumava minhas malas. Pegaríamos o vôo daqui duas horas e minhas coisas ainda não estavam prontas. Tadeu me perguntava se estava pronta a cada dez minutos, o que me deixava ainda mais atordoada. Por fim, tudo estava dentro da mala, e podíamos ir. Ele me ajudou a descer minha bagagem pois a sua já estava no taxi, nos despedimos de Dona Yone e seguimos rumo ao aeroporto. A placa que indicava que chegamos me fez lembrar de quando cheguei em Monthey. O avião saía em quinze minutos, nos apressamos e tudo foi tão corrido que quando dei por mim já estava dentro do avião e ele estava em movimento pronto para decolar e nos levar para Nova York.  Tadeu estava ansioso para chegarmos, podíamos ver em seus olhos e no tanto que gesticulava e falava. Sem ao menos perceber peguei no sono e só acordei quando o avião estava quase pousando em Nova York. Levantei a cabeça do ombro de Tadeu e pude sentir seu olhar em mim. O fitei e ele sorria. 


- Chegamos, finalmente! – Ele disse me olhando com um sorrio nos lábios. Estava mesmo animado com tudo aquilo.

Eu, juntamente a Tadeus também estava animada com a viagem, uma festa de casamento da qual os noivos eu nunca havia visto na vida e uma cidade linda para explorar. Chagamos ao hotel e Tadeu como sempre cordial foi checar nossas reservas. Quartos separados porém colados, foi a objeção dele. Tomei um banho e me vesti, queria sair dar um passeio e procurar um vestido para o casamento. Quando estava saindo Tadeu apareceu na porta do quarto me interrogando sobre os locais que estava pensando em ir sem ele, o qual estava vestido levemente americanizado. Nunca havia visto Tadeus com uma bermuda e um tênis, talvez por que Monthey não tinha clima para este tipo de roupa. Estava calor. Caminhamos pelas ruas da imensa Nova York e logo depois paramos para almoçar. Um lugar encantador, aconchegante e meramente decorado. Uma garçonete em torno dos 20 anos veio nos atender sorridente, com delicadeza no olhar. Por um instante senti falta do que era, sempre assim, sorridente e educada com todos.

- Casal! Como estão? – Disse Die, que logo após descobri o nome.
- Ah! Não.. – eu disse me engasgando olhando para Tadeu que não fazia questão alguma em me ajudar e sorria.
- Boa tarde, estou muito bem e você “meu amor”? – Ele deslizando os olhos entre mim e Die disse ironicamente.

Tentei sorrir, afinal estávamos passeando e enganando uma pobre garçonete que acreditava em algo que não existia. Fizemos nosso pedido e sempre Die sorridente puxava papo. Perguntou se éramos de Nova York, e quando respondemos que não e sim da Suíça ela se explodiu em elogios ao país o qual era apaixonada, mas nunca teve a chance de conhecer. Convidamo-la para ir nos visitar e ela logo aceitou. Quando fechamos a conta, agradecendo e pedindo-nos para voltar sempre Die disse:

- A quase todo tempo soube que não eram realmente um casal, mas quando indaguei no começo um de vocês não se prontificou a me corrigir. Posso estar errada, mas quando for lhes visitar na linda Suíça algo vai ter mudado. – Ela sorriu e nos entregou um agrado. Eu, como sempre, corei e tentando negar sorrir, mas Tadeu apenas passou o braço pelos meus ombros e completou:
- Vamos senhorita?

Por mais incrível que pareça Tadeu andou pelas lojas comigo e me ajudou a encontrar um vestido para o casamento que seria na noite seguinte. Chegamos no hotel por volta das 17 horas. Tomei mais um banho e me deitei na cama, quando escuto Tadeu no outro quarto cantando “Payphone” do Maroon 5. Olhei para a parede que dava para o quarto dele e sorri. Ele realmente não se importava com o que todos iriam pensar sobre ele. Levantei e peguei o vestido que havia comprado, coloquei em minha frente, por cima da toalha. Era realmente lindo. Era a primeira roupa que comprava em tanto tempo, logo eu que era realmente apaixonada por moda, roupas e coisas desse tipo. Larguei o vestido na cadeira e me vesti, arrumei o cabelo e liguei a tv. 

- Anne, você está aí?
- São duas da manhã, você tem noção? – eu disse abrindo a porta e dando as costas pra ele.
- Não consigo dormir.. – ele disse entrando por à dentro. – Pensei em dar uma volta o que acha?




Foi quando percebi que ele não estava de pijama e sorria pra mim com cara de quem não me deixaria em paz enquanto não fosse com ele. Sorri por conhecê-lo e pedi para que esperasse no corredor dois minutos pois iria me trocar.
Andamos um longo tempo sem ambos trocar uma única palavra. Quando Tadeu tentou por vezes falar algo mas não completava as frases. Esperei com que ele se sentisse preparado, nos sentamos em uma praça.

- Eu.. eu realmente.. sabe.. – ele se engasgava cada vez mais.
- Tadeus, tudo bem.. estarei aqui o tempo todo, procure pelas palavras.. – disse.
Ele apenas sorriu sem me olhar.
- Eu não sei como vou me sentir amanhã. – despejou. – Tenho medo de dizer alguma coisa errada, de ser algo que eu não sou. Ou então ser tudo que eu sou e estragar a noite dela.. – disse ainda fitando o chão.
- Se você quiser desistir, tenho certeza que arrumaremos algo muito melhor para fazer. Mas.. te conheço e sei que você é muito mais do que alguém machucado que não sabe lidar com a dor. Sei que .. – disse pegando na sua mão, precisava apoiá-lo. – Se você decidir ir a este casamento vai mostrar o que é, apenas alguém que quer realmente a felicidade de alguém que não foi nem um pouco certa com você. Por que esse é quem você é.
Ele ainda fitava o chão, mas logo me olhou e perguntou se eu queria um sorvete de morango. Sorri.


Tomamos o sorvete e voltamos para o hotel. Quando chegamos no corredor Tadeu me agradeceu pelas palavras e por confiar nele, e disse que não conseguiria dormir, se poderia me fazer companhia. Relutei, dizendo que queria dormir, ele disse que sabia mais que eu só dormia então que ele não ligava mesmo. Consenti e ele entrou em meu quarto medindo tudo, o que não havia feito mais cedo. Olhou para o vestido sobre a cadeira e disse que havia feito uma ótima compra. O porém era que ele havia falado isso ao menos umas seis vezes durante o dia. Coloquei novamente meu pijama no banheiro e me deitei na cama, onde Tadeu já estava sentado vendo tv. Deitei em sua perna e ele mexendo em meu cabelo disse que não esperava que ficássemos tão próximos e que daria tanta força pra ele. 

- Confesso que desde que chegou eu achava que tinha um olhar triste, não que ainda não tenha.. na verdade ele está sumindo. – sorriu. – Não sei o que é perder os pais Anne, mais sei o que é não ter ninguém com quem contar. – Ele completou me fitando, pude sentir. Não tive a audácia de olhá-lo. Meus olhos estavam tomados por lágrimas e não queria chorar, não hoje. Tenho certeza que não era isso que meus pais queriam. – Enfim... obrigada mesmo por hoje!












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